Clóvis Moura, 100 anos: SINTECT-SP participa de homenagem que resgata a história da resistência negra no Brasil
Notícia publicada dia 04/07/2025 12:31
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O relançamento do livro “Rebeliões da Senzala” e roda de conversa marcaram o centenário de um dos maiores pensadores da luta negra no país

O SINTECT-SP participou de um importante ato político e cultural em homenagem ao centenário de nascimento de Clóvis Moura, sociólogo, historiador e jornalista que se destacou por suas contribuições ao pensamento crítico brasileiro e à luta antirracista. O evento foi realizado em parceria com a Unegro, a CTB e a UBM, reunindo nomes do movimento negro, da política, da academia e do sindicalismo combativo.
Representando o sindicato, estiveram presentes o secretário-geral do SINTECT-SP e também secretário de Assuntos Raciais da FINDECT, Ricardo Adriane Negopeixe, o diretor Douglas Melo e o advogado Elias Orlando. Também participaram o presidente da Unegro de São Paulo, Marcelo Corrêa, e o presidente da Unegro de Santo André, Davidson Ribeiro.
A atividade foi realizada na Livraria Tapera Taperá, espaço cultural localizado na capital paulista que tem se destacado por sediar encontros voltados à literatura, ao pensamento progressista e à valorização da cultura afro-brasileira. O ponto alto da programação foi o relançamento da obra “Rebeliões da Senzala”, um clássico da historiografia nacional que desconstrói mitos sobre a escravidão e valoriza as diversas formas de resistência negra ao sistema escravocrata.
O debate foi mediado por Edson França, dirigente da Unegro, e contou com contribuições do professor Juarez Xavier, da Unesp/Bauru, e da vereadora Najara Costa (PCdoB), de Taboão da Serra. A historiadora Soraya Moura, filha de Clóvis Moura, não pôde participar presencialmente, mas enviou uma mensagem em vídeo parabenizando os organizadores e reforçando a importância de manter viva a memória e a produção intelectual de seu pai.
Um pensador essencial para compreender o Brasil profundo
Clóvis Moura nasceu em 1925, no Piauí, e se destacou como um intelectual que soube articular as dimensões da raça e da classe em sua análise da sociedade brasileira. Em Rebeliões da Senzala, publicado originalmente em 1959, Moura demonstra que a escravidão no Brasil foi marcada por resistência ativa, e não por submissão, como muitas vezes foi retratada pela historiografia tradicional.
Durante o encontro, Ricardo Adriane (Negopeixe) destacou a atualidade do pensamento de Moura:
“Clóvis Moura nos ensinou que a luta do povo negro sempre foi central na construção da resistência popular no Brasil. Seu pensamento é essencial para compreendermos como o racismo está enraizado nas estruturas de exploração que ainda atingem a classe trabalhadora.”
Moura também inovou ao afirmar que o racismo no Brasil é funcional ao modelo de capitalismo dependente e desigual imposto pelas elites econômicas e políticas do país. Seu trabalho desafiou tanto a academia tradicional quanto setores da esquerda que, historicamente, subestimaram a questão racial.
Um centenário com compromisso de luta
A homenagem promovida pela Unegro e entidades parceiras representa não apenas o resgate da memória de um grande intelectual, mas também um chamado à ação. Para o SINTECT-SP, valorizar a história de Clóvis Moura é fortalecer a consciência política da classe trabalhadora e reconhecer o papel decisivo do povo negro na construção do Brasil.
Ao participar desse ato, o sindicato reafirma sua disposição em seguir lutando por um país mais justo, sem racismo, sem exploração e com direitos para todos os trabalhadores e trabalhadoras.
Clóvis Moura faleceu em 2003, mas sua obra e suas ideias seguem vivas. Em tempos de retrocessos e ataques à democracia, lembrar Moura é um gesto de resistência e afirmação da luta histórica dos que sempre estiveram à frente das batalhas por justiça social.