Alimentos arrecadados na greve solidária ajudam pessoas em situação de rua

Notícia publicada dia 19/09/2020 10:20

Tamanho da fonte:

Os atos da greve solidária da categoria ecetista com arrecadação de alimentos geraram cerca de uma tonelada de produtos não perecíveis que foram doados pelo Sindicato em apoio ao trabalho feito pela Pastoral do Povo de Rua de São Paulo através do Padre Júlio Lancellotti.

A intransigência exagerada da direção militar da ECT, que insiste em destruir o Acordo Coletivo, retirar vários diretos e rebaixar a renda mensal obrigou a categoria ecetista a se defender através da greve.

O momento vivido pelo país com pandemia, enorme desemprego e um governo neoliberal de ultradireita direcionado a esfolar os trabalhadores exige criatividade na forma de lutar e, principalmente, empatia e solidariedade com o sofrimento da maioria do povo e com as complicações que a greve traz para os que dependem dos Correios.

Sem isso não há o apoio imprescindível para fortalecer a luta e possibilitar vitórias. E por isso a greve se tornou solidária e teve entre suas ações a arrecadação de alimentos para ajudar o povo pobre que mais precisa, massacrado nessa pandemia com falta de tudo.

O sofrimento nas ruas

A escolha de uma organização que trabalha junto ao povo em situação de rua veio de uma avaliação de necessidade. Esse povo é o mais vulnerável da cidade. Já não tinha emprego, moradia, alimento, produtos de higiene e nem onde tomar banho e tudo piorou mais com a pandemia.

Quando se trata de acolher o povo de rua, não há muitas opções. Ao contrário, vêm à lembrança os jatos de água da prefeitura em pleno inverno e as ações policiais pra lá de violentas. O Padre Júlio Lancellotti surge no horizonte como uma das poucas pessoas corajosas e bondosas ao ponto de dedicar sua vida à ajuda a quem já não tem nada.

Acolhimento na pandemia

Aos 71 anos, o padre está no grupo de risco para a Covid-19. Mesmo assim atende moradores de rua diariamente durante a pandemia. Coloca máscara e avental e participa da distribuição de alimentos, roupas e kits de higiene. “Não podemos abandonar justamente agora quem está mais vulnerável”, afirma Lancellotti.

Recentemente a revista Sentido fez uma longa reportagem com ele.

Abaixo estão três parágrafos da publicação:

“O que leva essas pessoas à rua?” “Não tem uma resposta só. É a mesma coisa que nos faz perguntar: ‘o que leva tanta gente a trabalhar?’. Nesse sistema que escraviza e oprime, por que as pessoas vão? A chegada na rua tem uma história. Ela é feita de sucessivas perdas. E algumas pesquisas apontam como problema de relacionamento do grupo familiar”.

Ele conta que é mais fácil achar a família dessas pessoas quando morrem do que quando estão vivas. “O morto, de certa forma, é inofensivo. Parou de encher o saco, não vai mais beber e ficar na porta de ninguém. Geralmente tem filhos, companheira…”, diz.

O padre Júlio convive diariamente com muitos conflitos e desafios. O maior deles é justamente garantir a autonomia dessas pessoas. “A população de rua não tem direito a escolher nada. Nem a comida que come. Nem a cama que dorme, nem a roupa que veste. Quem de nós veste uma cueca usada? A vida deles é devassada, sem intimidade.

Ataques

No dia 15 de setembro o padre registrou um boletim de ocorrência por ter recebido ameaças na rua por causa de sua atuação.

Segundo relatou, um motociclista o ameaçou numa praça no centro de São Paulo, enquanto ele distribuía alimentos a moradores de rua, gritando “padre filho da p*ta, defensor de noia”. A agressão foi registrada em vídeo e confirmada por pessoas que apareceram na gravação.

A diretoria do Sindicato se solidariza com o Padre Júlio e lamenta que a intolerância e a violência tenham chegado a esse nível absurdo nessa cidade.

A luta continua!

Compartilhe agora com seus amigos